terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

A TEMBA

TEMBA

.. a maioria dos Tetenses tinham um conceito errado da Temba. Bairro tipicamente africano, sobejamente conhecido, mesmo colado á cidade. A palhota, impecavelmente construída, com os métodos mais tradicionais, circular, era um abrigo onde a chuva , por teimosa e pesada que fosse , dificilmente conseguia penetrar naquele lar familiar africano. O sol nem tentava, porque a primeira espreitadela, era única, antes que tornasse a incomodar a sesta do residente. Entre este tipicismo, já havia imitações do progresso, e palhotas houve que perderam a primazia para dar lugar a barracas de madeira e zinco, bem menos confortáveis, e algumas de alvenaria pobre e tosca.
Mas a Temba, onde habitavam a maioria dos mainatos, pedreiros, carpinteiros, serventes, gente séria de outros serviços e outras menos sérias vivendo de terceiros, enfrentava um grande desafio...a urbanização... pensada e projectada batera-lhe á porta e perante esta ameaça efectiva.. nada a fazer, começou a deslocar-se, lentamente, para a encosta do Nhartanda.
As ruas começaram-se a rasgar... aquela gente pobre, que servia quem ordenava a mudança e lhe derrubava a casa-palhota, saía humildemente, sem pedir indemnização, mesmo que levantasse a voz, tudo era clandestino... nem a Lei de Usucapião tinha sentido ..
Silenciosamente constuiam um abrigo que pudesse acolher os seu filhos, mwanitas gorduchos e risonhos, que nasceram naquele lugar e ali cresceram e se habituaram a viver entre amigos. Com arame artisticamente dobrado e redobrado, circular e estendido, dando formas milimétricas, a olho nu,copiando o carro de marca famosa do muzungo que por vezes girava por ali... com carros de arame "made in Temba" faziam corridas nas veredas circundantes...
Temba socialmente pobre aristocratizou-se e nela os nomes sonantes da história, deram nomes, ás ruas como, o Marquês de Pombal, onde a Escola Industrial e Comercial Dr.Lacerda e Almeida, poisou num edifício feito de raiz, obra em todos os sentidos grandiosa para o burgo. D.Gonçalo Silveira, sentiu-se, e quis rua abriu-a e construiu nela o Paço Episcopal... bem mais para outra gente, mais povo, fizeram crescer bairros.... o Popular.. o Fumbe..
Onde morava a palhota típica, nasceram modernos edifícios, escolas, vivendas senhoriais .... mas para o velho residente da Temba, que descia á cidade para servir ...serviu na edificação da Nova Temba, não sobrou nada para ele.
Recolheu-se na encosta que escorrega para o Vale das Donas ou Nhartanda...
A cidade não os perdeu..continuaram a sua luta na cidade, nos serviços, nos cafés e restaurantes, comércios e casas particulares... gente boa e de  confiança.