segunda-feira, 7 de março de 2011

A TOURADA

..as verónicas e as chicuelinas já circulavam no pensamento dos aficionados e falavam delas com naturalidade..as mulheres que nunca tinham ouvido falar dessas feminidades andavam preocupadas... mas quem serão?
O redondel lá para os lados do matadouro municipal, ia crescendo incorporado de madeiras exóticas de primeira da região... luxo dos luxos que muitas mobílias gostariam de “vestir”.. fortes e rijas de tons variados, iriam servir de assento “aos esculturais” das beldades da terra, a sensualidade feminina, bem mereciam a qualidade do repouso. Os trajos fizeram movimentar as modistas, ansiosas de acontecimentos e ávidas em fazer algo de diferente, rebuscando nas revistas mais conceituadas.
A cabeça de cartaz prometia. – El Matador Jose Trincheira – acompanhado com quadrilha de capinhas e bandarilheiros experientes , que vestidos a rigor “trajes de Luces” e andar gingão, emprestavam ao ambiente um verdadeiro ar de festa brava. A ganadaria Aguiar, era da terra, previamente treinada e espicaçada, era onde residia a dúvida. Mais bois que touros, animais do mato..do mato livre, iriam ficar certamente aterrorizados com o redondel e a praça que lhe cortava o horizonte...
Dizia o entendido, que até se intitulava ex-forcado da Chamusca... “com tanta gente os garraios vão se espevitar e investir com força em tudo o que se mexer.. não se esqueçam que são bichos do mato”

Foi uma gala a entrada, cortejo de gente vestida á maneira,com muito salero, onde não faltaram os lenços, xailes, chapeus de copa raza bem á alentejana, flores....... prometia.
O homem do clarim, sargento da CaçTete, oferecido para o evento... soprou as notas de abrir o curro e saida ...a fera apareceu, lançou-se na arena e estancou, como se em frente deparasse com a missão de Boroma... ficou triste e quedo que nem um embondeiro. Numa azafama sem parar os bandarilheiros bem tentaram enfurecê-lo.. sentia a picada, mas movimentar-se só como os ponteiros do relógio
A praça aplaudia o novilho e ria em uníssono. Zé Trincheira, calipolense de gema, fez tudo para que houvesse investidas... está bem está... reduzido aos seu espaço o quadrúpede não arredava pata. Inspirado um capinha conseguiu que ele se mexesse. Vamos ter tourada.. e tivemos mesmo, o animal fugia do toureiro em direcção contrária quem por lá tivesse fugia do touro..

-Substituam o boi!! Gritava a assistência. Assim acontecia, salvo erro cinco vezes, nenhum dos seguintes foi melhor que o primeiro.

De corrida passou a garraiada e era ver os capinhas (peões de breca), bandarilheiros, voluntários e até o Zé passaram a forcados( o tal ex-Chamusca desapareceu) e para completar o espectáculo, e merecerem alguns aplausos que os novilhos levaram, pegaram á cernelha..... e tantos eram que quase o levaram ao colo. Mas o orgulhoso do mato, não baixou a cabeça ,por mais força que fizessem.

Ficou a festa e todo o ambiente que se gerou. A companhia taurina desapareceu e não pagou nada a ninguém e também nada viram de verónicas e chicuelinas as curiosas preocupadas...

Estávamos no ano de mil novecentos e setenta da nossa era tetense....