sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O SIMPLES...COMPLICOU-SE




Quando se gosta e se vive intensamente o quotidiano onde se reside, torna-se um habitante tão natural como o que lá nasceu. Foi numa manhã de domingo dia em que habitualmente tomava café com um pastel de nata na Pastelaria Caravela. 

Por lá encontrava , quase residentes,  o Afonso bom conversador, sabia ouvir e o Santos Martins mais para falar . O Afonso estava com a ideia de começarmos a relatar os jogos de futebol, ideia que não se chegou a concretizar por vários motivos,  principalmente por falta de apoios. O Santos Martins, jornalista dedicado, também  nunca alinhou nessa ideia. Virava-se mais para os relatos do que se  passava na politica ou no cenário de guerra.Era presidente do Sporting local e aventou em realizar-se um sarau de poesia. Caiu bem. Agradava-me a ideia como me agradou a dos relatos  . Contudo o sarau seria mais facil de realizar-se porque não faltaria artistas voluntários a querem participar e porque não, um bom principio para outros eventos similares.Havia de traçar um programa e cenário envolvente.Enquanto uns declamavam poemas de poetas mais conhecidos outros letras de canções que contivessem alguma poesia. Isto seria o básico. Até aqui tudo acordado. O busílis residia no envolvente. Da minha parte seria folclore local. Dois tambores rurais três dançarinas rigorosamente vestidas com capolanas coloridas. O som seria tão baixo quanto audível que acompanharia, em fundo, a récita.Estes figurantes participativos, poderiam convidar familiares e até alguns amigos. Não soou bem esta sugestão ao jornalista.  Numa tarde escaldante de quinta feira, normalíssima em Tete, um telefonema a dar-me a noticia , que o sarau tinha que ser no sábado próximo. Suspirei..... qual rajada de vento arrasadora. Não dava tempo a por em aberto sobre um palco um pouco de cultura popular. Mais furiosa a minha atitude se manifestou, porque já tinha proposto um evento semelhante a ser exibido no São Tiago e foi "rejeitada", nunca houve uma resposta de dia e hora.Do outro lado do telefone ouve-se -"sendo assim  vamos os dois porque não precisamos de ensaios e alternaremos". Engoli em seco, mas palavra é palavra. Nesse sabado compreendi a razão urgente . Os convidados eram patentes do exército, vexas civis e "madames" todas acaloradas com vestidos bem leves e coloridos. Não havia espaço para mais ninguem embora a sala estivesse a três quartos.Não faltaram aplausos e findos, retirei-me acompanhado por a velho amigo Sr.Cunha ( do Christos),  deixando na conversa quem se encontrava no lugar certo..... 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Á BEIRA RIO


……tenho visto várias fotografias do edifício dos correios. Umas todo pintado de vermelho outras como esta. Era um edicio mais ultil que bonito . A quem o vê deixa  um sentimento  percorrer-lhe a memória e recordar  momentos de vida. De cartas que recebeu do amor distante ou do desgosto, com lágrima interior, de nunca mais receber.Como não havia carteiros,  tinha-se que ter uma caixa postal. Dando tempo á distribuição, após a chegada do avião , apinhava-se gente de chave na mão á espera de espaço para abrir a caixa. Acto comum,uns entravam e saiam sem cumprimentar fosse quem fosse. Os mais conversadores rodeavam em convivo , quase vicio,  atrapalhando os mais apressados. O trocar  de acontecimentos “milandescos”em hora de trabalho. Demorar mais havia a eterna desculpa do atraso ou  lenta distribuição.  O meu itinerário era sempre o mesmo. Era me o mais divertido  estivesse a chover ou sol de torrar. Da avenida central, virava á Pendray eSousa, passava o Clube de Baixo(Sporting) em direcção ao rio.O rio que me fascinava pela sua grandeza, pelos barcos de passageiros com  katundus e de lindas capulanas, pelo batelão possante que transportava toneladas  vencendo a forte corrente.  Virava á esquerda via a encarcerada, solitária e sacrificada gazela, cruzava o jardim da alfandega , mãe de agua e kuima. Pelo jardim por vezes lá se viam namoricos, sentados no muro ou no canto onde estava a registo ,dos anos, de maior enchente do rio. Bonito de ver  são momentos do tempo que não regressam e  têm um sabor único.
Batia o rio forte e ruidoso. Parei para ver como redemoinhava no angulo do  paredão do jardim. Nyakoko que por ali passasse teria dificuldades em vencer  aquele turbilhão. Como chovia  estava só nem mesmo os empregados da alfandega e guarda fiscal se viam. Visto e revisto segui o meu  destino. A surpresa por vezes aparecia e nos ajustava a uma realidade que a cidade ocultava. Carro parado encostado á mãe de agua, como que escondido. Alguma coisa se passou. Será que a corrente entupiu a captação? Espreitei. Não, não era de gente de desentupir canos nem tecnicos avaliadores de qualquer ocorrência. Um casal, não acasalado, conversava com algum carinho, talvez suprindo carências ou agendando local mais apropriado.

A minha boca fechou-se  e no meu olhar apenas ficou a fotografia irrevelável . Assumi a pose dos três macaquinhos á sombra de imbondeiro .Confirmavam que me viram os seus olhos , ao cruzarmo-nos  em qualquer ponto da cidade ,denunciavam  comprometimento. 

Não era estanho na cidade essas poses. Umas mais  expostas outras mais recatadas. Em qualquer sociedade isto acontece e porque não em Tete? No interior do sertão africano….carente de acontecimentos extras....

 A prova real surgiu com a vinda de diferenciadas que frequentavam a Taberna do Cigano, o Maxime e outros bares. Foi uma época de oportunidades em todas as áreas comerciais e urbanas e em todos os sentidos sociais. Affaires  codificados  sem calhamaço de registo.Migrantes que chegavam sem carta de chamada ou certidão de registo criminal. A cidade acolhei-as. Encontrando cada uma o  seu lugar ou ocupando o lugar de  outra……

sábado, 18 de janeiro de 2014

A BANCA ANOS 60/70

Mal cheirou á construção da barragem de Cahora Bassa, os donos das instituições bancárias,  grandes gorilas do dinheiro começaram a bater calcanhar . 
Não foi preciso atravessar o rio de batelão muitas vezes, porque a ponte ainda só estava no papel, para se instalarem em Tete.
Até aos últimos anos da década de 60, o BNU era rei e senhor, apenas os correios  lhe faziam algumas cocegas com a“ caderneta” de poupança. 
Ficou lá sozinho na zona norte .Zona mais antiga da cidade que era o eixo sul/norte entre os dois fortes –São Tiago e D.Luiz
Toda a banca privada , assentou praça  mais a centro. Na rua que ligava a circunvalação ao rio. Então chamada de Antonio Eanes(nova Julius Nierere) ou na proximidade  .


Descendo a rua,  o primeiro a aparecer  era o Standard Totta. Uma agencia pequena , simpática, com algumas excepções. No rés do chão era o atendimento geral e na sobreloja a gerência.
Três ou quatro épocas de chuva chegaram para dar lugar á pastelaria Caravela, famosa pelos pasteis de nata .Escolheu  o cruzamento ,  onde a casa do juiz, cocoana no lugar, viu nascer a Univendas e toda a urbanização vizinha. 

Na esquina oposta conservador  Pinto e Sotto Mayor, agarrado a velha tradição de banco metropolitano, nunca acrescentou ao seu símbolo a palavra Moçambique.

Passado esse  cruzamento  nevrálgico, do lado direito, colado á Sotete, muito arrumadinho ficava o Montepio de Moçambique Era o mais mitimba. A sua área de negócio apelaria a que tivesse vindo mais cedo, ainda chegou a tempo de fazer moça no mercado da concorrência.

Um pouco mais e  Hotel Zambeze  lugar de reunião dos boca negras, “dos” rubrica milandos, que quando não tinham nada para dizer inventavam. O diário falado era ali publicado.


No res do chão  do hotel o filho fugitivo dos correios-- o Instituto de Crédito de Moçambique, hospedou-se, deixou de fazer cócegas ao BNU porque os outros já o arranhavam

o

Do lado direito , na avenida principal,   entre o bomba da Zambézia e o Megaza ,abriu porta o BCCI. Comecei por descer a rua para guardar este para último. 


Se entre todos os empregados bancários havia muita gente simpática, este reuniu a simpatia num grupo.

Já não conseguirei mencionar todas as pessoas , bancários em Tete no meu tempo, mas ainda há muitos que aparecem aos convívios e nas redes sociais da internet.

Insatisfeito com o lugar, velho e solitário, o BNU largou as sapatilhas esfoladas enfiou um ténis de marca  e procurou a companhias dos outros. Como estatal e emissor, não teve falta de “cobir” , construiu  casa própria apalaçada,  mesmo no cruzamento, ocupou área e em torre para que pudesse vigiar os outros.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014





  Dá gosto ver estas fotografias.
  Um dos recantos  mais  identificativos da cidade.  Quem chegasse á outra margem, Matundo, na era do batelão, era a torre da igreja  que sobressaía altiva,senhora do lugar,  depois o casario ao longo  do  rio protegido pela serra . 
  Aqui neste domínio,  ocupando um quarteirão, funcionou por décadas o único colégio/liceu. Foi tendo continuidade(certamente desde 1624  **) até tornar-se polo da Universidade Católica de Moçambique. 
  A história que contem mereceu ter esse destino . Continuar a contribuir para o enriquecimento cultural dos jovens , dando-lhes outras perspetivas futuras. Sempre a juventude tetense necessitou de mais instituições  de ensino , secundárias, profissionais e superiores. 
  Felizmente , vontades diferentes, abriram-se nesse sentido.Bom para  os estudantes que não necessitam de abandonar a sua terra . 
  Uma formatura vocacional ,numa província rica e em crescimento , é um bem para eles ,para a região e para o país.  
  Apraz-me registar esta reabilitação, mantendo a traça urbana e o bom destino que lhe deram.

**A fundação de Tete data de princípios do Século XVI (1531). 
Em 1563 já havia na povoação uma igreja, doada aos missionários que daí irra­diavam pelo sertão, e, em 1624, um colé­gio , chamado do Espírito Santo(www.net)



segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

PRAÇA 25 DE OUTUBRO (Antigo Jardim da Alfandega)

- O   sossego, o chilrear dos pássaros coloridos migrantes e os
segredos do rio batendo na muralha, residem em saudade.O Jar-
dim dos meus encantos não resistiu ás ideias dos novos tempos .
Enriqueceu-se em esplanadas  e encontrou-se com o divertimento
 do povo.Nada mais certo que dar um bom destino a tudo aquilo de que gostamos.  A favor do bem estar,do prazer alegre da convivência ritmada sem duvida, uma alternativa feliz.
                                                    

 A saudade residente ainda tem lugar apesar do rio se afastar, sem pedir licença ás horas de contemplação em toda a sua plenitude.  Ergueu um campo entre a muralha e o seu rico leito e  corre veloz,arrogante,despretensioso Já não afaga o  porto e a muralha centenária.Nem lhe bate quando raivoso em tempo de chuva.  Já não carrega os segredos de secretos encontros,na rampa em descida ,  dos ardentes ou furtivos beijos .Outros encontros se encontram.
E o Jardim continua a ser o livro de páginas invisiveis onde tudo o que  ali se passa fica escrito.
                                                                                           

                                                                            .

Esse pedaço de rio, que se renova, deixou de rubricar milandos  e de abençoar pertinho os enlaces duradouros.  Mas tudo vai mudando e um dia poderá acontecer em que volte a bater o ritmo na muralha, alegrando mais esse pequeno, mas importante recanto da vetusta cidade. (fotos0