domingo, 15 de dezembro de 2013

O SANTIAGO MORREU

LUGARES DE ESTÓRIAS POR CONTAR

Minguem tem dúvidas que a caixinha mágica  da tv, revolucionou o mundo. Tete não fugiu dessa revolução . Criou os meios e difundiu-os  por todo o pais . Modernizou e as famílias começaram a dispor , dentro de casa, da “caixinha” que os informa dos acontecimentos mundiais e os diverte em programas de  entretenimento  e filmes que outrora viam nos três locais que serviam a cidade.Se o mais moderno já desapareceu ,dando lugar a um hotel, se o anterior se mantém para outros fins, suspira-se….. e lamenta-se. Mas o primeiro esse padrão de cultura duma época , inegável,  gera uma pena  que vai ficar escrita na história tetense. O velho S.Tiago  está irreconhecivel. Deixou de ser a sala que a cidade precisa.  Sentava.se quem comprasse o bilhete, fosse qual fosse a raça ou credo, divertindo-se numa animada cowboyada americana, num musical de boa disposição italiano , numa paixão francesa ardente de amor  ou num longo drama amor indiano. Não faltava assistência e até se lutava para se adquirir bilhete quando o titulo do filme vinha com rotulo de bom. Fervilhava nos fins de semana , com três sessões. Manhã , indiano, por  serem muitos longos .Tarde as matinés , maiores de 6 anos, encontros e desencontros de namoricos.Noite , indiferenciados, para  a família e outros. O teatro que por ali se fez  bem podia ter continuidade e assim a  chamar juventude a esse tipo de cultura.

Toda  sua história vai desaparecer e um dia certamente , um edifício o irá substituir com outro tipo de actividade.Definitivamente o  Cinema S.Tiago morreu.




ONDE AS PEDRAS CHORAM........


O tempo não perdoa quem  nada faça por aquilo que foi estimado.A velha escadaria a desfazer-se, era imponente e dava um ar apalaçado ao edifício. Em cada degrau se poderá  escrever um verso , de muitos e longos poemas de amores. Degraus que foram bancos de carinhos irreverentes no despertar da adolescência .Encontros amorosos de primeiros beijos.

Uma perola colonial, onde um restaurante /bar funcionava , os Carlettis,  era um ponto de encontro de gente de bom gosto . Restaurante de paladar greco-moçambicano , apelativo aos festejos de aniversário ou um jantar com a exigência de um acontecimento mais querido. No piso de cima funcionava o notário , em tete-no-meu-tempo, era o Dr. Tramela Conde. Pessoa afável e de cumprimento fácil e popular. Não impunha mas dialogava para, nos casos mais difíceis, se encontrar a melhor solução . Coadjuvava-o o Mario Batalha, desportista  e bastante social. Os escritórios do Senhor Chaby e Campeão  dava um estatuto mais complementar ao edifício. Na base o comercio do senhor Casimiro Martins  acrescentava o movimento que se sentia em toda a periferia do edifio.

Emblemático constitui sem a menor duvida  uma  peça histórica , merece que lhe atribuam  mais atenção. É pena que tudo  o  que  viveu  se  esvazie  nas pedras que desmoronam. Que os segredinhos lembrados fiquem subterrados. Que os tetenses deixem, de viver os momentos passados nesse lugar que foi coração da cidade. Ainda há muitos residentes, pais ou avós,que recordam ,com certeza, os momentos de então, que por ali viveram. A sua reabilitação seria uma gratidão a quem ainda sente ,nostálgico, tempos  que o tempo levou. Um museu, uma casa da cultura, uma escola…enfim aquilo que na verdade merecer.

Tete, das cidades mais vetustas de Moçambique  requer  mais atenção na conservação de edifícios que a identificam  este é sem dúvida um deles

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

PASSEIO Á CHUVA



Passeio á chuva

..umas nuvens escuras vindas do lado do Zobué sobrevoavam Moatize, chuva que parecia ser passageira, seria de aproveitar. Saí com destino ao rio para apreciar o que dava um prazer incontrolável o encontro das pingas de descarga grossa com a turbulência do rio . Esperei ,esperei e começou-me a cansar a demora. Encostei e o Dominó foi a minha paragem de espera .O café de muitas recordações. A afabilidade dos empregados á simpatia do Torrão conservavam naquele pequeno espaço um clima de bem estar. Ali se cruzava muita gente e se combinavam encontros de negócios ou de namoricos. O cinema dava-lhe mais vida pelas horas do filme e ao domingo era de facto o dia maior do Dominó. Lugar de ver sair ou entrar saboreando um fresco mazagran ou um wisky saloio onde o ginger-ale mandava na percentagem. Não era difícil não encontrar alguém , mesmo que manhã fosse de sábado quente . Lá estávamos três e palavra puxa palavra em diferentes opiniões. O Santos Martins era mais ortodoxo e puxava a conversa para os feitos bélicos , bem lá no interior ou no norte, que desconhecíamos. Exaltava-se com frequência .No momento bem mais que o habitual porque se sentou na mesa o Magalhães, que sempre ,discordava com a sua ortodoxia. Magalhães , um relações publicas nato, estava prestes a deixar Tete , porque a firma onde era gerente o chamou para a Beira, refutava serenamente num português bem mais vernáculo o que o desarmava com facilidade. Nesta de estar sentado com vontade de se levantar, venceu a vontade e o jornalista saiu, apenas com um gesto para a mesa dos senhores Chaby e Garção ,sem qualquer saudação como se fosse á procura da chuva que eu esperava….
Por fim lá veio ela bem forte e saí , arranquei até junto ao jardim da alfandega(lugar de muitas recordações), onde uma gazela refém e solitária sofria todas as inclemências do tempo. Por lá ficou o Magalhães e o Torrão em cavaqueira. A chuva era de facto forte e o Zambeze já ia farto, mais farto ficou. Engrossando o caudal com a rapidez da chuva ,depressa se espraiou pelas margens. Enquanto bateu forte no carro deixei-me estar.... e mal começou a abrandar foi ver se deu para fazer poça …lá para o Nhartanda. Ali quando poça ficasse, passados poucos dias, nasciam lindos nenúfares duma beleza ímpar.Lugar natural de tais nascimentos mas que nunca fora aproveitado para que o bouquet continuasse sempre vivo.

Defeitos dos muitos com que a cidade convivia.