domingo, 7 de junho de 2009
OS BARCOS DE 1972
ATRAVESSAR O ZAMBEZE -- TETE/MATUNDO/TETE
......já começara a ter saudades dos velhos barcos, alguns de casco carcomido, pouco faltava para o crocodilo por ali espreitar ou nos acompanhar na viagem, que nos levavam e traziam de margem a margem do grande rio.Do batelão, onde a tripulação a cada viagem, arrumava os carros ,com a simplicidade e perícia de marinheiros sabedores da arte de bem arrumar a mercadoria a bordo, para que a navegação pudesse ser segura e escapasse á traiçoeirice do rio.
...os pilares da ponte há muito que se erguiam no meio do rio.... o tabuleiro estava quase a unir-se . A ameaça ao tipicismo do Zambeze era iminente.
Os dias estavam contados e as travessias iriam apenas ser narradas, por quem as viveu, ou as contemplou das margens, parecendo que as águas os engoliam e o batelão parecia impotente á força da corrente, pior na altura das chuvas....
O velho barqueiro era tudo, capitão, cobrador, comissário de bordo e descarregador.
Travava as discussões...ajudava a descarregar as "cangarras" os sacos de mapira, o "catundo"contendo de tudo um pouco..
...dava a mão á senhorita de capolana domingueira ao saltar não molhasse o pé... era a gente da aldeia do mato, distante, que iria sentir mais a falta do barqueiro..
A ponte majestosa esperava a inauguração por quem certamente não a viria utilizar.
Que seria quando o cimento armado substituísse o seu dia a dia e o seu ganha pão,... a alegria que transmitiam quando a rádio , lá bem perto deles, emitia um ritmo de manear as ancas..
O rebocador encostou e o batelão ficou a ali á espera que nada acontecesse... calaram-se as vozes ... pode vir.... mais um pouco... para a direita... para a esquerda ... em frente.... ALTO.
Nós e o Zambeze deixamos de ouvir esta cantilena...a cidade empobrecia , costumes seculares iam desaparecendo, nem para o turismo serviam... para que se pudesse recordar esse tempo.
Agora a soberba ponte desafiando a natureza, alheia ao passado ... ergue-se rodeada de jardins e monumentos, invade a cidade... abre caminho a todos os que queiram passar... o progresso é feito destas coisas impessoais... e dum dia para o outro torna-se o ex-libris do burgo centenário, onde ao lado dela os vetustos Fortes de S.Tiago e D.Luis , deixaram de ter significado bem como a velha igreja, baluarte do cristianismo, ficam apenas num postal a identificarem um lugar....
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