A ESTRADA DA CIRCUNVALAÇÃO...
Enxerto de Tete Gaiata morena de lábios doces..
A chuva estava prestes a cair. O pó característico da cidade, precisava de ser acalmado. Os relâmpagos já se tinham arreliado lá para os lados do Chingodzi e o Matundo recebiam , numa azáfama de gente a proteger o que era para proteger, as primeiras pingas grossas .
Respingavam no Zambeze e num abrir e fechar de olhos ,o pó, cortesia da cidade ao visitante, abrigava-se e irmanava os primeiros odores. Rebentou uma chuvada de se tirar o chapéu. Por ironia o centro regional do RCM difundia o Meu Chapéu do João Maria Tudela. Até sabia a letra, desafinado, a dois ou três tons “sustenidos ou bemóis” não sei se abaixo ou acima, sentia a como se estivesse bem afinado... nunca tive queda para a musica, mas é do que gosto mais e tocam-me as canções dos anos sessenta...
Segui pela avenida principal , mesmo ao fundo virei á esquerda e praticamente logo á direita . Dobrando a Metalúrgica de Tete do saudoso Senhor António Pires( senhor duma personalidade paradigmática, com um surpreendente dom de palavra) essa estrada que se urbanizou com vivendas apalaçadas , não estava totalmente asfaltada.Deram-lhe o nome de Monteiro Gamito. Dava um prazer diferente , passar os m´curros em tempo de chuva e patinar no matope sob os olhares dos que gostavam de rubricar milandos. A meu destino era passar pelo aeródromo do Chimadzi e entrar na Estrada de Circunvalação.
Estrada que não passava da rua mais popular(no verdadeiro sentido da palavra) da cidade . Ali se misturava a população das diversas etnias, culturas e raças. Centro comercial por excelência, acarinhava o visitante, com lojas de baixo custo e refrescava-o nos bares que proliferavam. Era só escolher onde haveria o melhor petisco ... a Manica ou Laurentina ...mais fresca. O serviço era excelente, fosse,no Bar Alves, Copacabana, Beira Alta ,Estrela....mais atrevido o 2002... e ainda se poderia reparar, saciando-se com uma deliciosa refeição, saborosa, picante ou não, primorosamente confeccionada no restaurante da Pensão Cadima.
As senhoras , sempre á procura do melhor preço, se alegravam com as lindas capulanas do Bazar Cabora Bassa, Casa Eva ou Catogo...
Esta rua era de facto um espanto,por vezes mal tratada,quando nos anos sessenta era o palco principal da vida nocturna. Elo de ligação entre a urbe e o sub-urbano dava-nos lições de boa e sã convivência numa interacção de culturas.
De circunvalação pouco tinha ,mas ,alimentava a simbiose da verdadeira sociedade tetense...
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