terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Á BEIRA RIO


……tenho visto várias fotografias do edifício dos correios. Umas todo pintado de vermelho outras como esta. Era um edicio mais ultil que bonito . A quem o vê deixa  um sentimento  percorrer-lhe a memória e recordar  momentos de vida. De cartas que recebeu do amor distante ou do desgosto, com lágrima interior, de nunca mais receber.Como não havia carteiros,  tinha-se que ter uma caixa postal. Dando tempo á distribuição, após a chegada do avião , apinhava-se gente de chave na mão á espera de espaço para abrir a caixa. Acto comum,uns entravam e saiam sem cumprimentar fosse quem fosse. Os mais conversadores rodeavam em convivo , quase vicio,  atrapalhando os mais apressados. O trocar  de acontecimentos “milandescos”em hora de trabalho. Demorar mais havia a eterna desculpa do atraso ou  lenta distribuição.  O meu itinerário era sempre o mesmo. Era me o mais divertido  estivesse a chover ou sol de torrar. Da avenida central, virava á Pendray eSousa, passava o Clube de Baixo(Sporting) em direcção ao rio.O rio que me fascinava pela sua grandeza, pelos barcos de passageiros com  katundus e de lindas capulanas, pelo batelão possante que transportava toneladas  vencendo a forte corrente.  Virava á esquerda via a encarcerada, solitária e sacrificada gazela, cruzava o jardim da alfandega , mãe de agua e kuima. Pelo jardim por vezes lá se viam namoricos, sentados no muro ou no canto onde estava a registo ,dos anos, de maior enchente do rio. Bonito de ver  são momentos do tempo que não regressam e  têm um sabor único.
Batia o rio forte e ruidoso. Parei para ver como redemoinhava no angulo do  paredão do jardim. Nyakoko que por ali passasse teria dificuldades em vencer  aquele turbilhão. Como chovia  estava só nem mesmo os empregados da alfandega e guarda fiscal se viam. Visto e revisto segui o meu  destino. A surpresa por vezes aparecia e nos ajustava a uma realidade que a cidade ocultava. Carro parado encostado á mãe de agua, como que escondido. Alguma coisa se passou. Será que a corrente entupiu a captação? Espreitei. Não, não era de gente de desentupir canos nem tecnicos avaliadores de qualquer ocorrência. Um casal, não acasalado, conversava com algum carinho, talvez suprindo carências ou agendando local mais apropriado.

A minha boca fechou-se  e no meu olhar apenas ficou a fotografia irrevelável . Assumi a pose dos três macaquinhos á sombra de imbondeiro .Confirmavam que me viram os seus olhos , ao cruzarmo-nos  em qualquer ponto da cidade ,denunciavam  comprometimento. 

Não era estanho na cidade essas poses. Umas mais  expostas outras mais recatadas. Em qualquer sociedade isto acontece e porque não em Tete? No interior do sertão africano….carente de acontecimentos extras....

 A prova real surgiu com a vinda de diferenciadas que frequentavam a Taberna do Cigano, o Maxime e outros bares. Foi uma época de oportunidades em todas as áreas comerciais e urbanas e em todos os sentidos sociais. Affaires  codificados  sem calhamaço de registo.Migrantes que chegavam sem carta de chamada ou certidão de registo criminal. A cidade acolhei-as. Encontrando cada uma o  seu lugar ou ocupando o lugar de  outra……

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