Para haver tantos, duma só vez algo se iria passar fora da rotina diária e tranquila do burgo. Começava-se a notar uma azáfama invulgar para a margem do rio.
O jardim da alfandega estava cercado e no terreiro de chão batido, contíguo ao amuralhado do porto, estendia uma longa mesa que pela tardinha se foi cobrindo de iguarias da melhor qualidade . Não faltavam os rissóis nem os pasteis de bacalhau que faziam crescer agua na boca ao povo, que pelas frestas por onde não podia arregalar muito os olhos, espreitava os tabuleiros cheios sonhando num pic-nic ao som da marrabenta.....
Era a despedida do governador . Só entrava quem fosse convidado. Os fardas brancas com as esposas, vestindo a rigor os comerciantes de mimbas gordas , onde a balalaica fazendo refego, aliviava o botão que estava quase a dizer adeus, e população escolhida, enchiam o recinto do jardim em redor da mesa comprida. Teciam-se os mais elegantes elogios ao homenageado com cariz de verdadeira amizade. A sua simpatia era de facto digna de festa e o seu desempenho exemplar.
Não eram só as comesanas, num palco improvisado junto ao Pelourinho não faltaram jograis ou truões e canções , poesia e discursos. A neta cantou linda canção francesa ... o “ Senhor Velhote” sorriu e comoveu-se e duas lágrimas emocionantes e vádias, soltaram-se... não as limpou , misturadas com o suor secaram .
A festa era de alegria e o conjunto musical não parava , dando aso a um pezinho de dança, para aqueles que ao primeiro compasso, já estão acompanhando o ritmo.
Tanto por fora quanto por dentro do recinto vivia-se um dia diferente. Até que para que tudo acabasse, dentro do programa, meias dúzia de foguetes romperam o céu em direcção ao rio... aí é que foi... minha gente.... a verdadeira festa. Os empregados de mesa desequilibraram-se, nunca tinha vista tais coisa assim voando ruidosamente, atiraram-se para de baixo da mesa e por entre as toalhas espreitavam atemorizados . A desenrolarem-se... iam saindo e de boca aberta mãos “no” cabeça, assistiam ao cair do fogo colorido... mas os que estavam cá fora. Esses , batiam com os calcanhares no sitio mais a jeito, dispersando pelas ruas .. paravam viam o fogo e como kizumbas , orelhas empinadas, regressavam cautelosos e lentos como se tivessem enchido a barriga no banquete.. outros houve que foi necessário que o "chamuare" o “desembrulhasse” da berma do passeio e ...és pá estás vivo pá!!
Já todos familiarizados com os foguetes o último ,de fim de festa, estava arrancar da rampa de lançamento com todo aquela fogaça , só que este foi bomba sem “lágrimas”, o estrondo foi brasa e ... cuecas "não ficou suja" porque “ meu gente” só usava cabedula.
Após os abraços e desejos de felicidades os convidados saíram a população mais afoita aproveitou o que restava e o bando da fardas brancas lá foi tocar na marcha do dia a dia....
Tete gaiata ....
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