…a galinha-do-mato tem que vir em cangarra se não, não é galinha-do-mato. Sempre que, o Luís nosso mecânico, ia a aldeia, para os lados do mazoi, regressava com a ginga tão carregada que nem carreira “dos caminho-de-ferro” e na cangarra bem amarrada atrás lá vinham duas ou três galinhas de bico aberto e goela seca, abafadas com todas as quitandas por cima. Os ramos que a compunham e as “tambalas” que amarravam formavam o entrelaçado engenhoso que faz do objeto uma preciosidade regional. Os design do feitio era de acordo com a criatividade e gosto do artesão. Redondas ovais ou mais ou menos bicudas serviam perfeitamente para o transporte das galinhas, por vezes não se redimensionava o tamanho á quantidade, tornando-a um transporte coletivo e apertadinho. Bem cacarejavam e esperneavam mas não valia de nada o esforço, porque a tambala não cedia. Soltas no galinheiro era vê-las a “desembrulharem-se” em direcção á água numa sofreguidão tormentosa.
Objecto singular mas de tanta utilidade que dá para transportar os mais variados pertences. A sua configuração ajuda, a amarração á ginga, e também ao transporte manual , não faltam “ pegas” . Não lhe chamem mala, porque certamente não vai gostar, a mala ficaria enobrecida se lhe chamassem cangarra. A mala é feita por máquina industrial , a cangarra é a” máquina” humana de mãos calejadas com produtos da natureza .O espírito com que é manuseada é particularmente só de ajuda, para servir e não para ser comercializada. (talvez possa vir a ser, em miniatura ,um objeto regional para turista). Sempre gostei das cangarras e até pintadas , tons de verde espalhadas por cantos do jardim com flores a crescerem por meio, iluminadas interiormente projetavam no local aspectos de beleza curiosa. Havia quem as inferiorizasse. Não sabiam dar valor ao que valor tem.
•Gostava de ver a chegada dos barcos do Zambeze, que o tempo levou, carregados de gente e de montões de cangarras , cada uma com sua utilidade, que eram atiradas para a margem ,onde águas do rio não chegasse. Cada um levava a sua , num hábito típico da região. Gostava de ver as gingas, carregadas com pares de cangarras amarradas , do aldeão que vinha vender galinha á cidade e já sem espaço ainda cabia o filho mwana que vinha ajudar no negócio. Gostava de as ver perfiladas com o galináceo dentro á espera de comprador.
......................." galinha á cafreal" sabia melhor se galinha saísse da cangarra…
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